Filme “Truque de Mestre” e Percepções



Truques são desafiadores. Eles desafiam a lógica e a razão e, por isso, atraem tanto interesse. A capacidade visual do espectador é um elemento chave para o sucesso dos truques, e é com o conhecimento de estratégias que consideram esse e outros elementos que os personagens principais do filme “Truque de Mestre” vão, cada um, apresentando seus truques e virtudes.




        Então, inicialmente, somos apresentados a Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), o qual é um mágico conhecido, mas que ainda está trabalhando com pequenas apresentações; e Henley (Isla Fisher), que já trabalhou como assistente de Daniel, embora agora faça suas próprias mágicas. Enquanto Jack (Dave Franco) realiza golpes nas ruas através de técnicas de ilusionismo; e Merritt (Woody Harrelson) é um mentalista especializado em hipnose.

Assim, eles são apresentados brevemente e notamos que o que eles têm em comum são suas habilidades de mágica, característica central que levou alguém a selecioná-los. Cada um deles recebeu uma carta, a qual os levaram a um local indicado, deixando uns aos outros surpresos ao se encontrarem. Ao entrar na sala marcada, ficam ainda mais surpresos. Observam truques de mágica impressionantes. E ali começa a trajetória do quarteto.

Assim, o grupo, chamado de Os Quatro Cavaleiros, começa a realizar números de mágica de grande porte devido a uma pessoa misteriosa, tendo como patrocinador o milionário Arthur Tressler (Michael Caine). No primeiro show, o grupo consegue encantar o público com uma mágica em que roubam dinheiro de um banco, dinheiro este que é espalhado para a plateia, que ovaciona e vai à loucura.

Mas, obviamente, nem todo mundo fica contente. O agente do FBI Dylan Hobbs - interpretado por Mark Ruffalo - é designado para investigar e cuidar desse caso. Embora, inicialmente, se mostre relutante em ter que pegar esse caso, logo ele se envolve e quer resolvê-lo a todo custo. A tendência é que o grupo realize novos e maiores truques, o que deixa o FBI preocupado com a situação. Então, o detetive conta com a ajuda da detetive da Interpol, Alma Vargas (Melani Laurent) e de um homem famoso por desmascarar e contar segredos de mágicos, Thaddeus Bradly (Morgan Freeman). Este oferece aos detetives uma interpretação de como o crime foi executado pelos mágicos, passo-a-passo.

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Dessa forma, eles começam uma busca para alcançar os criminosos, mas estes sempre parecem estar um passo à frente, deixando o detetive e seus colaboradores sempre de mãos vazias. Assim, a história envolve elementos de entretenimento, mostrando mágica, ilusionismo, mentalismo e hipnotismo que são utilizados para realizar roubos, causando perseguições. Assim como as mágicas iludem, as pessoas também podem iludir. Então, em quem o detetive pode confiar? Quem é aliado e quem apenas aparenta ser aliado?

Apesar da grande quantidade de críticas negativas realizadas a esta produção, é interessante notar a reflexão proposta por este filme e pelos truques em geral. Como o mágico pode nos enganar se estamos a todo momento tentando prestar o máximo de atenção possível, tentando olhar cada mínimo detalhe na execução do truque? O quanto podemos confiar em nossos sentidos, como a visão?

Não só os truques de mágica especificamente, mas ilusões de ótica e tantos outros exemplos nos fazem questionar o quão confiáveis são as informações recebidas através dos órgãos dos sentidos. É por meio dos processos cognitivos como a percepção e a memória que tomamos conta da realidade que nos rodeia, sendo que a percepção consiste no processo em que entramos em contato com o mundo através dos sentidos. Mas a percepção não envolve somente o uso dos sentidos, o processo é complexo e também envolve uma interpretação do que é recebido pelos órgãos sensoriais.




Assim quando uma pessoa assiste a um truque de mágica, ela busca um sentido, uma lógica para o que acaba de presenciar e, quando não a encontra, pode muito bem interpretar e acreditar que realmente foi uma mágica, algo realmente mágico. Utilizando-se da agilidade e também de estratégias como desviar a atenção do público para um ponto não importante do cenário, o mágico consegue realizar seus truques, fazendo com que o público não note essas estratégias e aguçando a curiosidade e interesse dos observadores.

Interessante também é notar que a palavra “magia” tem sua origem na língua persa, e vem de ‘magush’, um tipo de conselheiro ou sábio que sabia interpretar sonhos. No grego, ficou conhecido como ‘magos’, derivando ‘magiko’ (mágico) e ‘magike tekhine’ (produção dos sobrenaturais); a palavra ‘mágica’ também tem essa mesma etimologia. Assim, a mágica é aquilo que não conseguimos explicar racionalmente e desafia a lógica, mas, como sabemos, ela consiste de formas elaboradas para superar a capacidade de percepção dos observadores.

É dessa forma que o grupo atrai observadores e vai conquistando seus objetivos. Os efeitos utilizados no filme, especialmente nas mágicas, são interessantes e prendem a atenção, do início ao fim. O fato de as mágicas serem reveladas não prejudicou a trama, pelo contrário, faz ficarmos ainda mais interessados e curiosos para ver como o filme irá se desenrolar.

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Portanto, essa busca dos detetives de tentar estar um passo à frente dos mágicos é intrigante, visto que estes se utilizam da mágica para sempre estar dez passos à frente. Mas, como a mágica mesmo nos demonstra, nem tudo é o que parece ser. Talvez quem parece estar em desvantagem não necessariamente está com o jogo perdido. O desfecho surpreende - e não poderíamos esperar algo diferente de um filme que promete surpreender com suas mágicas.

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