O último dia
Hoje era o último dia. Mas o último dia de que?
Talvez o último dia que veria aquela caixa sorridente que me atendeu tão bem no supermercado que tornou meu dia mais alegre. Talvez o último dia que entrarei naquela loja que tanto amo mas que está quase falindo. Talvez seja a última vez que veja minha amiga que vai se mudar para outro país. Talvez o último dia que verei minha cachorrinha que tanto amo mas que está tão doente. Talvez seja o último dia de tantas coisas...
Pensando nisso, lágrimas começaram a rolar pelas minhas bochechas até chegar aos lábios, temperando as emoções daquele momento. Sal. Dor. Desilusão.
Mas algo mudou.
Um senhor sentou ao meu lado, olhou para mim e me ofereceu cordialmente um lenço:
-Não sei quais são suas dores, mas saiba que depois do inverno rigoroso, a primavera floresce em cores.
Me deu um abraço carinhoso e partiu tão rápido quanto chegou, apoiando-se na sua bengala.
E eu fiquei ali, com as lágrimas secando no rosto encarando o lenço de toque agradável. Sequei as novas lágrimas que surgiram com o lenço que ele me deu, tanto literal quanto metaforicamente.
Pensei 'Talvez seja o último dia que verei esse senhor e sentirei sua generosidade'.
Mas dessa vez isso me deu uma sensação de leveza. Foi o ato espontâneo e passageiro dele, foi o fato de ser tão momentâneo e finito quanto alguns segundos podem ser, que tornou aquela experiência única e cheia de significado para mim.
Não importa se for a última vez. Desde que eu a sinta com cada pedacinho do meu ser. Não importa se for a última vez se for uma última vez bem vivida.
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